Afinal (não) havia um príncipe ... para mim
houve sim, mas não foi para sempre...
como nas histórias encantadas.
Dizer adeus a um sentimento que insiste em gritar dentro de nós é muito doloroso. Ele faz força para sair, todo o dia, toda a hora, mas nós empurramos ele de volta para dentro. E até dizemos: - Fica quieto, não atrapalhes. Mas ele não aprendeu ainda as boas maneiras, vira costas por escassos momentos, mostra um sorriso amarelo, mas só para disfarçar. Volta e meia, fica à espreita, rondando, inquietando todas as células que vivem debaixo do mesmo tecto.
Inclusive, a dona Ansiedade, a cusca do 5º A, vizinha e “amiga” de longa data, que até andava benzinho, já teve que voltar a tomar a droga. Ora, já para não falar das gémeas, as filhas da dita senhora, as in(Sónias), penso que as devem conhecer - infelizmente. Não param de me bater à porta, toda a santa noite. E trazem com elas os carneirinhos, as cercas, até os joguinhos de cabeceira. Acabo sempre por lhes oferecer um chá de camomila, para acalmar. Mas de nada adianta, elas continuam frenéticas, as gaiatas. Dou-lhes a dose em forma de biscoito para não estranharem. Já o senhor Apetite, aquele que vive sozinho, no quarto das traseiras, há dias que não aparece. Bom, ele sempre foi muito discreto, mas estava sempre pronto para uma vaquinha, quando lhe cheirava. Na verdade nunca esteve fora mais que uma semana. Quem sabe foi visitar as amigas, a Fome e a Vontade de Comer, acho que vivem no Centrum50+. Vem de lá sempre com outra cara. Mais bem disposto.
Adiante. Não vou alimentar esta gaiola dourada. Há que tomar uma atitude mais séria. Não podemos deixar que um sentimento por mais gritante e teimoso que seja, venha “roubar” o sossego, a paz, a tranquilidade a um conjunto de células, mesmo as mortas, que todos os dias se levantam, mexem os dedos, babam-se, peidam-se e dão graças por poderem fazer ovos mexidos com bacon para o pequeno-almoço.
Não existe fórmula para o calar, eu sei. Toda a gente sabe. Também não conheço uma poção mágica. Quem me dera, estava rica. Já cantei para ele a canção "foi bom enquanto durou, mas acabou”, foi pior a emenda que o soneto. Não cantes por favor. As lágrimas ganham vida, deslizam numa corrente desenfreada, a tristeza ocupa todo o espaço, a angústia trespassa qualquer parede, o desânimo trouxe édredon, a pena alimenta e consome, a saudade é uma goma gigante, demasiado doce, que gruda o tempo todo. E ele grita, grita e grita.
Como dizer a um sentimento para ir morrer longe?
- Tem paciência, digo-lhe. Vai passar. Sempre choramos por ser triste o fim, pela pena de ter que abafar, apagar um sentimento tão bonito. Não devia ser permitido tal coisa. Mas essa tristeza faz parte do processo de desvinculação do outro. É bom encarar a tristeza de frente, vai permitir soltar as emoções verdadeiras, e não vai diminuir ninguém. Como todas as emoções, ela também é temporária. E lidar com ela, permite -nos dar atenção para algo em nós que precisa de cuidados, ajuda, compreensão e resolução, além de nos orientar para a tomada de decisões. Afinal, "ser gente grande se aprende amando, apartando e deixando fluir". - Tenho a certeza que li isto algures, mas onde?
Mais dia menos dia, vais arranjar um cantinho seguro, arejado e acolhedor, aí dentro. Será a tua nova morada, a tua zona de conforto, e vais parar de gritar e importunar as pessoas. Em vez disso, vais dizer…
TENHO FOME...
Consegui que ficasse de orelha no ar…